É romper o dique, movimentar os sonhos, as alegrias de deixar rolar a vida rio abaixo, até as nuvens: destino de todos os rios.
O SONHO DO REGATO.
As gotas despencam do vertedouro! Enquanto isso choram o jugo da represa a trancafiá-las
Esta lamúria contínua ceva minha insônia. Bracejo a escuridão como fossem barrancos que limitam o escorrer dos meus sonhos tristes; raízes de bambuzais a esfregarem-se na minha solidão, moldada pela sombra das matas ciliares deste escuro.
As águas querem a massagem das pedras polidas por suas ancestrais gotas do mesmo rio. Anseiam pelo rolar na doce cascata do calmo córrego. Ah, a alegria do encontro da interseção com cristalinos afluentes, na sombra de olorosas matas espessas.
A represa deixa ofegante a lembrança das cócegas provocadas pelo atrito das escamas de cada peixe; as rabanadas dos espevitados seres aquáticos. O marasmo impede o doce perfurar agulhento do finos peixes alongados da cor dos raios do sol.
Resta a visão barrenta da mansidão pétrea desse empoçado imenso, de entornos descampados e em dissonância com o salpicar lacrimoso das frutinhas. Essas bolotinhas que se atiram do alto para a alegria líquida do mundo, mirando as bocas famintas de diversão.
A contenção imposta impede o espojar-se amplamente dos sonhos de mar. É o túmulo dos anseios da água represada e das fantasias do meu atormentado ser.
O SONHO DO REGATO.
Cada gota do córrego,/
Todo o ribeirão,
Oprimido pelas margens,/
Ambiciona ser mar./
<Sonda a imensidão das profundezas.
Cada onda de dilúvio,/
Toda a vaga,
Ardida pelo sal,/
Deseja o céu./
<Sonha a leveza das nuvens.
Cada gotícula do firmamento,/
Todo o vapor,
Despenca o olhar,/
Almeja ser torrente./
<Anseia a fluidez dos cardumes.