A simplicidade possibilitava uma infância interessante e acontecimentos inesquecíveis. A pasteurização de hoje inviabiliza o inusitado.
A FESTA DOS PORCOS.
Pois eu tinha uns 10 anos quando fui a um casamento no sítio. Daqueles em que se estendia uma lona no terreirão de café, mesas e bancos de tábuas e esta pronto o cenário.
Então chegavam os convidados, morrendo de fome, num tempo que refrigerante só se tomava aos domingos. Uma tubaína repartida pela criançada.
A carne assada sempre atrasava e o grosso da fome era aplacado numa baciada de sanduiche de carne moída. Só depois o povo avançava no churrasco espetado no bambu.
Tudo correndo normal. A chuva ameaçava voltar, mas dava uma trégua pra noiva desfilar com o vestido branco. O longo véu vinha sendo segurado pelas duas irmãs menores pra não embarrear-se todo. O povo, cerveja e cachaça na cabeça, já falava alto demais pro gosto das corujas que ficavam sentadas nos palanques da cerca que separava o gado da churrasqueira.
Os porcos presos no mangueirão, às vezes faziam um ronco de reclamação. Talvez tenha sido este grunhir dos porcos que atiçou o espírito de porco de alguns amigos da minha idade. E quando um moleque olha pro outro, é porcaria na certa. No caso foi porcaria, literalmente.
Pois, aberto o chiqueiro, os porcos invadiram a festa. Ao invés de virem empanados na farinha, vieram rolados no barreiro da saída do curral.
Então trepei na jabuticabeira e fiquei de camarote assistindo a invasão. Por fim, foi só mulher, homem e meninas subindo nos bancos. Pois os moleques já estavam todos a postos nas jabuticabeiras e pés de manga.
A festa, de repente ficou mais animada ainda. Era homem agarrando porco e porco correndo de tudo o que se movia. Os cachaços tentando subir nas mesas pra fazer uma boquinha.
Resultado: o casal separou-se depois de alguns anos, mas ainda foi a festa de casamento mais divertida e mais emporcalhada que já vi. E nunca mais vai ser possível outra assim, são passados.
É, os casamentos caboclos eram mais chiques. Às vezes, chiques e emporcalhados. Mas chiques. Hoje são lembranças.