O tal do humano tem das suas. E algumas, não há cão que aguente.
UM CÃO SUICIDA EM PLENO DOMINGO
Estou ali de boa, fazendo um pedal domingueiro. Daí avisto um cão sobre o muro que protege os transeuntes do penhasco lá embaixo. Cara, não tem dúvida. O peludo está com ideia de suicídio. Está ali ensaiando a coisa. Naquilo de vou, não vou. Tipo: me segura, senão eu pulo.
Agora ainda essa, por cima de toda a desgraceira que vivemos. Cachorro suicida, desistindo da vida boa. Me pergunto se é um bicho sem dono.
Vou lá conversar. É sem dono, não. Tutor, ele me explica. Diz que isso de dono já está fora de moda. Eles têm tutores. Vou procurar no google o que isso significa exatamente.
Vidinha boa, ração de marca, banho semanal, tosa todo santo mês. Almofada de cetim recheada de bolinhas de silicone, na caminha que fica no quarto da tutora. Vacinas e vermífugo em dia. Passeio diário com a cheirosa na praça do bairro. O que mais um quatro patas pode querer?
Aí ele me explica que está difícil ser chamado de meu bebê. Tipo, chega no pet shop e vai gritando: vim buscar meu filho. Essas tramóias aí. Mas até que estava levando. Não gosta e tal mas suporta.
E então, pergunto, precisa chegar nisso de suicídio por causa de uns mela-melas desse?
É que tem um pior. Aí não dá pra suportar. A fulana tutora, agora comprou um carrinho de bebês, lá da Itália. Pra pet bebê. Daí enfia o quatro-patas dentro e vai desfilar no shopping.
Aí não dá mais, passou do limite, me garante o candidato a esbagaçado na rigidez das pontas agudas do penhasco, lá nas profundezas.
Fica olho no olho, esperando minha resposta. Não tenho. O silêncio vai ficando opressor.
Ele põe a patinha direita da frente no vazio e diz: só pulando né? É muita humilhação. Ajuda aí, parceiro, eu vou responder o quê?
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.
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