Seu Josias não sabe ler papel, mas consegue ler a alma de um vivente.
O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO.
Quero saber quem é o velho sentado na cadeira de cordinha azul.
– Oras, não conhece, não? É o homem mais velho do mundo.
Logo imagino que esta cadeira, onde Seu Josias está sentado, seja a cadeira de Adão, que eu pensava ser o mais velho dos homens. Mas talvez a questão seja que Adão não está vivo.
No entanto, ninguém sabe quando o seu Josias nasceu. Mas sabem que é o mais velho de todos. Como será que sabem disso?
Dessa forma, preciso sentar-me ao lado da sua cadeira azul, num banquinho de pernas tortas. Logo puxo conversa e constato que só pode mesmo ser alguém muito antigo. E são as suas conversas que me convencem disso. Sabe aquelas histórias antiquadas, umas palavras gastas. Pensamentos enferrujados pelos meses e anos de chuvas e frios.
Após algum tempo ele passa a uma perguntação sobre minha vida. Quer saber de mim, concluo. Vou desfiando com minhas histórias frouxas, conversa de cadarços desamarrados.
Passadas muitas nuvens pelo céu seu Josias põem a mão ossuda sobre meu joelho esquerdo e diz pra eu não esquecer: havendo sentimentos de indiferença às pessoas que amamos, não é possível ser feliz.
Então encaro aquele olhar esbranquiçado que navega no vazio das órbitas do velho e descubro que ele já leu minha alma.
É, só pode ser o homem mais velho do mundo. Pelas suas ventas passaram todos os ares do universo para ele ter essa sabedoria: a capacidade de ler um cabra nuns minutinhos de prosa.
Estou indo, vou esquentar a careca ao sol.
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – UEL FM.