Um brasileiro parido na África

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Fonte de água construída em 1746 no Morro de São Paulo, Bahia.

Tão brasileiro quanto uma jabuticaba, só um muxoxo.


UM BRASILEIRO PARIDO NA ÁFRICA.

Ouvinte, eu não sei nada sobre linguística e esses assuntos acadêmicos e sofisticados. Mas se tem algo do nosso falar que me parece ser tão brasileiro quanto uma jabuticaba é o tal do muxoxo.

Ah, você não sabe o que seja um muxoxo. Sabe sim. Faz uso dele toda vez que está insatisfeito com alguém. Sabe, tão desapontado que nem consegue dizer nada. Daí você dá uma paradinha, coloca as duas mãos sobre as coxas, com o corpo já meio virando para sair dali, força uma respiração profunda e tasca um muxoxo.

É só aquele Tsc. Esse clique feito com a língua atrás dos dentes incisivos. Um som curtinho de tudo, mas carregado de uma tonelada de descontentamento ou de desprezo.

Viu só como você sabe o que é um muxoxo. Só não conhecia de nome. Alguém mais culto explicaria que é uma figura de linguagem chamada onomatopeia. Mas no fim é só mesmo esse Tsc.

Você consegue imaginar um alemão, um inglês, um japonês soltando um muxoxo? Não dá né.

Mas nem foi parido pelos brasileiros também. É muito brasileiro, mas vem do quimbundo, uma língua africana, lá de Luanda, que os escravizados trouxeram pra cá. Mas agora é nosso, brasileirinho da silva.

E, convenhamos, serve muito bem em várias situações do nosso cotidiano. Ou seja, se nem cabe o que dizer, então solta um muxoxo na cara do freguês e tá feito. Vem carregado de todo um descontentamento ancestral.

Só não vá despachar um muxoxo pra minha conversinha aqui. Um pouco de caridade comigo, né ouvinte.

logo rádio UEL

Áudio: Trabalhos técnicos Ricardo Lima – Rádio UEL.

Acesse AQUI outro post da Coluna O COTIDIANO.

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