As crianças querem brincar, nós adultos é que já não queremos nos incomodar com um tempo de qualidade para elas.
CORRE-CORRE.
Precisamos desconfiar de umas verdades que já estão consagradas nas cabeças das pessoas. Uma delas é a de que as crianças não querem mais brincar.
Eu tive a prova de que essa fala pode atender a muitos interesses, menos ao desejo das crianças.
Fui convidado para um evento, um tanto mal explicado, numa fazenda do município. A curiosidade me levou. E eu levei as filhas. Estas mais desconfiadas do que eu.
O que encontramos foi uma porção de gente dentro de uma antiga tulha de armazenamento de cereais, transformada em local de encontro. Além do corre-corre de crianças pelo antigo terreiro de secagem de grãos de café.
Houve demonstração de dança japonesas, meticulosamente exercida pelas bachas, dança alemã de uma juventude animada para uns gritos entusiasmados, os adolescentes na capoeira e por aí vai. Uma mistura de idades, de culturas, de gostos. Quando vi minhas filhas estavam dançando música alemã.
Porém o que estava por vir foi mais bonito ainda. Todos pro gramado pra um pic-nic. Cada qual levou o de comer e fomos partilhando tudo.
Aí começaram as brincadeiras. Aquelas do século passado. Os maiores carregando os menores num carrinho de mão, brincando de trocar os passos de modo sincronizado, presos a uma ripa nos pés. Os pequenos mergulhando numa pequena caixa d’agua que fazia as vezes de piscina. Dezenas de crianças correndo e gritando as brincadeiras.
Perguntei às filhas se não teria sido melhor passar a tarde de domingo em casa, grudadas numa tela. A resposta veio rápida e segura: papai o tablet é chato. Quando vamos voltar aqui?
Sobrou a certeza de que o problema não são as crianças. Nós adultos é que já não queremos nos incomodar com um tempo de qualidade para elas.