Educação que não se dá em casa vira fiasco na rua. A regra é segura, líquida e certa.
A MUTILAÇÃO DO RESEDÁ.
O sol grita na manhã de quinta-feira; a falta de sombra anuncia a proximidade do meio do dia. Mais alto ainda grita a menina. Seu pulmão de seis anos é uma sirene a calar a fome de todos os pedestres.
Antes dos gritos ela só estava fazendo birra. Não queria obedecer ao pai, não aceitava a intervenção da mãe. O pai insistia ameaçador, a mãe negociando, e ambos sendo ignorados pelo bico da menina, braços cruzados, empacada no meio da calçada.
Mas foi aí que o pai teve a ideia de aumentar a força da ameaça e, erguendo o braço, arrancou um galho do resedá que sombreia a rua. Foi quando a garotinha pôs-se a gritar desespero.
Os olhos de todos despencam sobre a varinha na mão do pai, que agora tenta escondê-la atrás de si. A mãe garante que a menina não irá apanhar, que se acalme, e principalmente, que se cale. Que cale os olhares condenatórios dos passantes.
Eu me interesso pela cena. Quero saber do desfecho, enquanto cogito que educação que não se dá em casa vira fiasco na rua.
Mas quem me surpreende é a pirralha gritante, que interrompe o banzeiro e explica à mãe que não é medo de apanhar. Grita é porque o pai maltratou a natureza. Ah, é a mutilação que o resedá sofreu que aflige tão profundo a sensibilidade da mocinha.
Agora quem sofre a condenação geral é o pai. Já não sabia o que fazer com a filha que vai arrastando, segura pela mão direita. Tampouco consegue decidir o que fazer com a varinha, que segue pendurada na mão esquerda.