Temos também isso a aprender com os nossos irmãos das florestas: como manter o céu lá em cima, límpido e celeste.
A QUEDA DO CÉU.
Eu li e depois reli o livro A QUEDA DO CÉU. Pois neste livro podemos conhecer um tantinho do povo Yanomami. Na época em que li o livro eles nem estavam tão em evidência. Contudo, desde a primeira leitura deste livro, fico me perguntando o que é que poderia manter este céu lá em cima, no seu papel de firmamento. Ou seja, o que pode evitar a queda do céu.
Em abril de 2019 encontrei com o Yanomami Davi Kopenawa e então ele mesmo deu a resposta. Ele disse que seria necessário utilizar a palavra ao invés da flecha, para chegar aos povos da cidade.
Pois eu também defendo que só as palavras podem sustentar o céu, evitar que desmorone sobre nossas vidas.
Conforme falamos uns com os outros, vamos imprimindo um ritmo ao nosso viver, permitimos que o universo mantenha-se girando.
Mas a questão é que as palavras estão desaparecendo do cotidiano. Quando relatamos termos falado com alguém, na verdade o que fizemos foi enviar uma mensagem, onde metade de tudo são e-mojis, joinhas ou algo assim.
Tenho uma lembrança da minha infância lá em Santa Catarina. Por vezes, as mulheres conversando e quando uma anunciava que ia contar algo que se passou na comunidade ou com alguém, a ouvinte dizia “não me conte, não me conte”. Essa fala dava o ritmo ao diálogo das comadres. Pois a conversa mantêm a dinâmica da comunidade, sustenta o firmamento deles. Impede a queda do céu.
Por fim, atualmente este movimento vem sendo substituído por uma fala on-line. Onde cada um se expressa de uma vez. Tudo muito assertivo e rápido. Mas sem espaço para interjeições de espanto, de alegria, de medo. Impossível levar a mão espalmada à boca enquanto dispara um “não me conte”. São apenas informações pasteurizadas numa conversa de distantes, de pessoas que não estão sob o mesmo céu.
Isso tudo faz com que o céu fique mais baixo, mais pesado, raspando nossas cabeças, tal e qual um dia de tempestade se anunciando.