A violência nossa de cada dia.

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A violência, nossa companheira certa no cotidiano, em todas as suas formas.


A VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA.
Altar lateral da Igreja da Candelária, ITU, SP.

Nem acabei de entrar na casa do Luís e já ouvi sua gritaria com o filho de 12 anos. O garoto adora filmes violentos. Facadas, incêndios, desabrigados. Esses apocalipses.

Sem saber o que fazer com a minha presença, lascou a pergunta: Por que sempre há tanta violência e porque as pessoas gostam tanto?

Pois eu gosto mesmo é de uma boa pergunta. Então abracei essa aí e ficamos dançando juntos a semana toda, só remoendo a bichinha. Por fim, acho que o Luís está enganado em pensar que isto de gostarmos de violência é coisa daqui e de agora.

Quando o Jesuzinho nasceu numa manjedoura, o povo já gostava de ver o sacrifício dos animais no templo. O gosto do sangue fresco ou o cheiro de carne queimada das oferendas. Matar criancinhas.

Por outro lado, centenas de anos antes, na Grécia antiga, que era um dos povos mais cultos do mundo, já se assistiam espetáculos ao ar livre. As tragédias gregas. A coisa era feia.

O ouvinte lembra da conversa do tal complexo de Édipo? Um bebê condenado à morte pelo Rei, que, detalhe, era seu pai. Cresceu num lar adotivo, matou seu velho e casou-se sabe com quem? Com mãe dele. Assim assumiu o lugar do rei. Para piorar, sem saber que era o culpado, jurou que o assassino seria punido. Claro, era uma tragédia. Assim, acaba o Édipo por se descobrir réu e juiz ao mesmo tempo. Arranca seus olhos e cai no mundo, feito indigente. A rainha, enforca-se.

Pois se isto aparece no horário das 6 da tarde na tv de hoje, é capaz do programa sair do ar no dia seguinte.  Mas o povo ia para praça assistir isto. E gostava.

Próximo ao ano 1.300 o italiano Dante Aliguieri escreveu 3 livros de poesia. O inferno, o purgatório e o paraíso. Lembra da expressão Inferno de Dante? Pois é isto aí. Experimente ler tais clássicas poesias. Isto é que é violência. Tinha condenado que nem chorar podia, pois suas lágrimas congelam-se nos olhos.

Quer mais? Então tome. Até pouco depois da descoberta do Brasil, por volta de 1.550, a Europa toda adorava assistir a encenação da crucificação de Cristo nas ruas. E era violência pura. Pensava-se em demonstrar quanto sofrimento Jesus padeceu. Pois foi só depois deste período é que mudaram um pouco as coisas, civilizaram o assassinato de Cristo e começaram a apresentá-lo mais como redentor do que vítima. Então a violência foi praticamente abolida da encenação.

É, não é novo isto de violência pro povo.

E até esqueci os shows romanos: leões comendo cristãos e o povo delirando na arquibancada.

Portanto, só o que  mudou foi a forma de apresentar. Pois a praça migrou pra dentro de casa, pra a televisão ou para a internet.  O resto, há milhares de anos é igual. Então, a única diferença é que aquilo que escritores e poetas precisavam imaginar, hoje é tomado de cenas da vida real. E gostamos disso. Os índices de audiência que o digam. Mas também preciso lembrar que já li a tragédia Édipo Rei uma dezena de vezes e que sempre que posso, volto a ruminar as belas poesias de Dante. Aliás, recomendo as duas obras.

Resumindo, coisa muito velha e muito atual, isso de violência.


Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – RÁDIO UEL.

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