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Clausura voluntária

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Apaixonado pelas pessoas, o vento grita pelas frestas, a nos lembrar que a felicidade está lá fora e não dentro das paredes da fluoxetina.


CLAUSURA VOLUNTÁRIA.

Pois a pandemia deixou alguns frutos entalados nas gargantas.

Um desdobramento foi que nos enfurnamos em nossas casas, mesmo depois que o distanciamento social não é mais necessário.

Por fim, recheamos nossas moradas com uma parafernália de tecnologias e de comodidades que por nos cativarem, nos tornaram cativos.

Então a casa deixa de ser o “lar, doce lar” e se metamorfoseia em prisão. Deixa de ser um espaço de levezas e alegrias, de movimentos, para se tornar uma masmorra, um ergástulo da alma.

A porta que dá acesso às visitas, aos amigos, torna-se um limiar que separa o interno da claridade ruidosa do mundo. Uma cortina escura e pesada faz as vezes de grades, que enquanto cercam a luz para fora, nos engaiolam num voo para dentro de nós próprios.

Pintamos os interiores de cinzas e pretos, as novas paletas da felicidade. E assim descolorimos paredes e espíritos. São tons de descolorir, de beber tristezas, de arrochar laços de ódios.

A casa fica estúpida e nós mergulhamos na masmorra depressiva. Aceitamos chorar, abraçados pelas paredes sombrias e calcando o limo do piso. Prantear lágrimas do coração, pois os olhos, esses já emudeceram.

Lá das ruas, a invasão de um ruído insistente. Apaixonado pelas pessoas, o vento grita pelas frestas, a nos lembrar que a felicidade está lá fora e não dentro das paredes da fluoxetina.

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