Coisa de passarinhos

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Mesmo uma simples palavra tem o dom de encantar e até mudar o destino de um vivente.


COISA DE PASSARINHOS.

Perguntaram como foi que eu comecei a escrever. Aí eu parei: cadê reposta? Nunca havia pensado nisso. Mas fiquei incomodado com a questão.

Agora já sei como foi que comecei a ler e a escrever com tanto gosto. E resolvi contar para você, pois me pareceu interessante como um ou outro fato sem muito sentido, pode mudar nosso rumo na vida.

Eu estava no 5o ano do tal ensino primário. Num tempo de ditadura, a professora pede para escrever uma frase sobre o passarinhos. Devia ser um concurso no dia do ambiente ou algo assim.

Numa noite de domingo, já véspera da entrega da tal frase, com um toco de lápis e um caderno velho, comecei a fazer rabiscos enquanto a ideia não vinha.

Foi aí que apareceu o Oswaldo e se dispôs a ajudar. Era formado em matemática e gerente das Casas Pernambucanas. Isso, no interior e naqueles tempos, já era muita coisa.

O rapaz foi me direcionando e saiu a frase: PÁSSAROS, ALEGRIA DAS MATAS. Ou seja, um quase nada, mas a tarefa já estava cumprida.

Então ele perguntou: alegria das matas da onde? Eu repondo que das matas do Brasil, afinal estávamos nos anos 70, no País grandioso e melhor do que todos, na época do positivista Ame-o ou deixe-o.

Bom, melhorou: PÁSSAROS, ALEGRIA DAS MATAS DO BRASIL. Mas ainda está pobre.

O Oswaldo sugere trocar matas por outra palavra mais bonita. Mãos ao dicionário e saiu a versão final, que foi a ganhadora do tal concurso da tal professora do tal colégio.

Fiquei orgulhoso por ganhar um… vamos chamar de concurso literário, com 11 anos. Mas o pior é que fiquei fascinado com o substituto para matas. Parecia algo assim sobrenatural, sofisticado, transcendente.

Eu lia e relia a frase, repetia a palavra. Pensa num menino encantado.

Por fim, acho que foi a sedução por essa palavra que me despertou um negocinho lá nos fundinhos da alma e eu passei a gostar de escrever e, mais ainda, de ler palavras.

Ah, você que saber a frase ganhadora do concurso do 4o. ano do colégio estadual Nilson Ribas, lá em Jaguapitã, em 1974? Tá, vou facilitar pra você:

PÁSSAROS: ALEGRIA DA RAVINA BRASILEIRA.

Ficou campeão, não ficou?


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Áudio: Trabalhos técnicos e paisagem sonora de ——- – Rádio UEL.

Acesse AQUI outro post da Coluna O COTIDIANO.

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