Convite de casamento

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A morte pode liquidar quase tudo, menos o verdadeiro amor.


CONVITE DE CASAMENTO.
Foto de alianças de noivado.

Recebi um envelope pomposo com o convite de casamento de um amigo. Então, como é costume depois de alguns dias eu não saber mais onde enfiei o convite, estava olhando com atenção para gravar a data e local da cerimônia.

Assim, como que atraídos por um imã, meus olhos foram parar sobre o nome dos pais do noivo. Pois à frente deles, entre parênteses, a anotação: in memoriam.

Foto de detalhe do bordado de Mayumi Ito/Reiko Sudo, intitulado Organdi de Bordado Carnaval, 1996, exposto na Casa Japão, SP, em setembro de 2019.
Detalhe do bordado de Mayumi Ito/Reiko Sudo, intitulado Organdi de Bordado Carnaval, 1996, exposto na Casa Japão, SP, em setembro de 2019.

Os pais dele já não existem, transformados em uma saudosa lembrança. Porém estão estampados oficialmente no convite de casamento. Isto me intriga.

Lembro da história de um túmulo do tempo dos antigos romanos. Na lápide havia um poema e depois a afirmação do finado de que ele ainda estava vivo, na voz do desatento leitor do poema. Ler o poema, dava vida ao seu autor que jazia naquele tumulo.

E então, o que fica além da lembrança dos nossos entes queridos? Além da dor de perdê-los? Ou seja, quando o celebrante do casamento pedir a esses noivos a jura de amor até que a morte os separe, será que não estará pedindo menos do que eles estão dispostos a dar?

Acredito que embora a tristeza ocorra nas famílias e entre os amigos, as perdas não são maiores que o amor que permanece. Se o amor se acaba logo, o sofrimento será ainda menor que esse pouco amor.

Por outro lado, se o sofrimento é intenso, duradouro, o amor tem que ser maior.

Portanto os verdadeiros laços familiares e de amizade não se desfazem com a morte.

Então é isso que noivo está expressando no convite de casamento com o nome dos seus finados pais. A convicção de que eles estarão presentes na lembrança e no coração do filho neste momento importante da sua vida. Ou seja, uma declaração de que é capaz de amar mesmo alguém ausente.

Talvez por isso mesmo é que viúvos e viúvas usem a aliança de casamento mesmo décadas após terem perdido seus parceiros. Porque aquele amor de antes sobrevive ao passamento do cônjuge. Pois ainda está ali, alimentando-se da lembrança dos bons momentos e do carinho do outro.

A conclusão é de que a morte não leva tudo com ela, sobra o amor, o amor verdadeiro.

E vivam os noivos!


Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – RÁDIO UEL.

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