Homem, que homem?

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Nesses hojes, como é mesmo ser homem?


HOMEM, QUE HOMEM?
Foto de indigena esculpido em madeira.

Início de noite de sexta-feira, calor, calor, excelente para o ar livre na lanchonete da esquina.

De uma mesa logo na entrada, brotam duas amigas e eu, bem tolo, solto um “cadê os macho?” Danaram-se a denunciar a falta do item no mercado.

A noite vai engrossando o caldo no cozido das senhoritas que entendem por já passado o tempo de serem senhoras. Interessante, garotas modernas, bem sucedidas, independentes e pleiteando, coisa antiga, casamento. Dizem estar a ponto de desistir, que depois dos trinta não rola mais nada, é ancorar no sofá.

Minha visão masculina não admite concordar, mas falo o mínimo possível, senão sobra para o meu lombo, que já entendi as duas, loucas para um confronto onde vislumbrem a possibilidade de provar suas teses.

Reclamam que só aparece moleque e bêbado baladeiro querendo acrescentar mais uma na coleção.  Caramba, e vocês, procuram o quê? Claro que a resposta foi o queremos um homem.

Mas agora fiquei na parede. E o que é um homem, já que os penduricalhos entre as pernas não definem mais este bicho? Ah, e com a existência de tantas variantes e alternativas que acabo usando o termo não binário, para não escrever um alfabeto todo. Meu, essas duas falaram, esbravejaram, argumentaram e não chegaram a nada. Aí fui eu quem empoçou com essas caraminholas na cabeça.

Lembro dos tempos em que eu entrava na sala de aulas na universidade, às quintas-feiras e era recebido por uma manada de filhos de fazendeiros, ainda com bafos do leite da manhã ou da cachaça da noite. Meus tênis e roupas desconversavam com as camisas xadrez, as calças jeans de famosa marca, as botas de couro de sei lá que, de bicho morto, pronto. Ah, e as indefectíveis fivelas do tamanho da minha frigideira.

Verdade que muitos professores, no afã de bancar camaleões, imitavam os alunos. Saudades da juventude, talvez. Eu era muito jovem, não precisava deste expediente. A questão é que com meus trajes parecia que eu fosse menos homem, ou diminuído na macheza. Até um dia que emprestei de um dos alunos uma fantasia daquelas e cheguei bem macho para a classe.

Ao final perguntei se a aula fora melhor, já que o professor estava travestido de agroboy. Recebi risadas de troco. Mas foi divertido e instrutivo, pois tivemos a oportunidade de falar sobre o papel da aparência na vida profissional e o quão é vital para a vida pessoal, não ficar copiando estilos; a única forma de ser um alguém ao invés de mais um manequim. O fato é que naquele microcosmos o modelo de homem era o do vaqueiro, do cowboy de rodeio, do macho bruto, mais rude do que o touro.

Mas e hoje? Como deve ser um homem hoje?

Passei o dia matutando e agora, já na hora de apagar os olhos para esse hoje que já deu o suco que tinha, me vem uma ideia. Talvez ser homem, seja ter a capacidade de tratar uma mulher com gentileza. Hum, isso pode dar num caminho qualquer.

O maior homem é o mais gentil com a mulher. Você é tão homem quanto consegue ser atencioso com uma garota. O macho precisa ser capaz de extrair um espontâneo sorriso desses lábios angelicais, ou diabólicos, das mulheres.

Compadre, ou é isso, ou não é nada disso.  

Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – RÁDIO UEL.

Acesse outro post da Coluna O COTIDIANO.

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