Maria Cândida

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Dinha que é mulher disposta! É tão ativa, tão decidida, que nem se move. Sempre a recuperar seus fôlegos todos.


MARIA CÂNDIDA

Dinha que é mulher disposta! É tão ativa, tão decidida, que nem se move.

Seu nome: Maria Cândida, Candinha. Na dificuldade com as três sílabas, resumiu pra Dinha. Virou Tadinha, na boca de todos.

Tadinha: tão paradinha.

Mocinha, não ia à rua para não precisar voltar. Não se levantava, para não carecer deitar na cama outra vez. Economias!

Deu jeito de casar. Sempre que vai contar como foi a excepcionalidade, resume toda a história num muxoxo autoexplicativo e pronto!  Só pode ter sido coisa de santo forte, dizem alguns.

O moço é trabalhador. Passa o dia na faina e retorna para a casa, que encontra absolutamente no estado em que a deixou. Apaixonado, contempla a esposinha na cama; silêncios para não a incomodar.

 Quando não está nem tão cansadinha, Dinha jaz no sofá, Tadinha.
Pessoa em situação de rua na praça da Sé em São Paulo, SP.

O marido se compadece, o coração derrete com dó. Os corres do dia deixam ela assim, ou assim.

Ele organiza os cômodos, prepara um jantar. Leva até o leito, que Tadinha precisa repousar. Entrega a refeição de colher em colher, suavemente. A paga é aquele olhar límpido céu que a Dinha entrega, devotada.

Caso depois de se recolherem — cedo, que o dia é um algoz todos os dias — o maridinho resolve reclamar um chamego, uns quentes para encaminhar sono encovado; Dinha não nega. Põem-se de bruços, que é como ela imagina que melhor possa se entregar. O marido urge que urge, até feito pato cair de lado.

Soneia um pouco e desdorme em seguida, que a Tadinha da Dinha já pôs-se num resfolegar murmuroso. Tadinha, tão cansada dos esforços do dia, da despreendida entrega ao marido. Este, com os olhos a passear nos nozinhos da madeira do foro, espera a Dinha acomodar o sono. Tadinha!

Sem querer, que pensamento não tem rédeas, o marido imagina um dia em que a esposa se colocasse a mover, nos durantes. Fazer uns usos das mãos, dos pés, das bocas todas: nele. Ele ficaria estatuazinha de deleite. Não, seria uma exploração, Tadinha.

Sempre imaginei que a Dinha fosse muito repleta de carnes, de sebos. Nada, sequinha. É que só, apenas janta. Comida pouca, conduzida pelo dedicado esposo. 

Tadinha gosta de variar as posições, movimentar o corpo. Assim é que nem sempre está no leito. Tem o sofá, a cadeira de balanço, rede, tem a esteira. Dinha não se aperta.

– Dinha, tu quer?

– Quero … ficar aqui mais um cadinho, quieta. Recuperar o fôlego que não me vem.

Tadinha, mulher disposta a tudo!

Áudio: trabalhos técnicos Elias Vergenes, UEL FM.

Acesse AQUI outro post da Coluna O COTIDIANO.

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