Minhas desopiniões.

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E só o fácil satisfaz a quem não pensa. . . . Olhai as vacas do campo: não lhes faz falta a ciência.”


MINHAS DESOPINIÕES!

Por fim, chega ao fim o fim da campanha eleitoral. Eu estou feliz! E olhe que preparei esta fala antes do resultado das urnas. De modo que, por fim, não sei o que você já sabe, ou seja, qual foi o fim.

Mas não é pelo resultado que eu estou feliz, até porque ainda o desconheço. É pelo simplíssimo fato de ninguém mais perguntar qual a minha posição.

Olhe, eu não tenho a menor dificuldade de expor minhas crendices. Pelo contrário. Gosto muito, pois sempre é possível que venha um pensamento contrário ao meu, recheado de boas considerações que me levarão a pensar diferente e melhor.

Vista interna de túnel do Castelo de São Felipe de Barajas, Cartagena de Indias, Colômbia.

A questão é que nesta campanha eleitoral, as pessoas vêm perguntar minhas desopiniões, mas não querem ouvi-las. O que desejam é que ao expressar minhas convicções eu declare mesmo é a opinião de quem está perguntando. Que eu referende a sua descalçada posição. Isso me cansou. Eu não quero falar da sua opinião. Quero expressar aquilo em que acredito. E, repito, aceito e gosto que você questione com argumentos decentes.

Agora, por fim, fico feliz com esse fim, seja ele qual foi. Poderemos pôr um fim à necessidade de validarmos nossas opiniões infundadas.

E nos veremos nas próximas eleições!

IMUNIDADE DE REBANHO
A estupidez é sua própria recompensa.
Graças a ela, o mundo faz sentido,
um só, que é fácil de identificar.
E só o fácil satisfaz a quem não pensa.
Pensar é coisa trabalhosa. A ignorância
é o sumo bem dos cidadãos de bem,
é a verdadeira marca dos eleitos.
Ter sucesso é não ter que saber. Saber cansa,
e o objetivo central de qualquer existência
só pode ser não se cansar. Olhai
as vacas do campo: não lhes faz falta a ciência,
pastam em plena bem-aventurança,
sem que nenhuma antevisão do matadouro
perturbe a santa paz da ruminança.
Paulo Henriques Britto

Áudio: Trabalhos técnicos e paisagem sonora de Elias Vergennes. Narração do poema por Miguel Heitor Braga Vieira. – RÁDIO UEL.

Acesse AQUI outro post da Coluna O COTIDIANO.

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