Podemos sorrir.

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Muitos de nós, com ou sem máscara, somos da espécie Homo preconceituosus, que ainda sobrevive neste século XXI.


PODEMOS SORRIR.

Janeiro de 2020 pariu um bebê, o Luquinha. Então, depois de dois meses a Aline contratou uma babá recomendada pela sua irmã. Agora o protótipo de gente está aos cuidados da Fátima.

Contudo, a questão é que o garoto, já com mais de dois anos, nunca viu as fuças da cuidadora.

Claro, a Aline é uma leoa desconfiada. Antes de chegar a babá, até infestou o apartamento de câmeras filmadoras. Assim a Fátima tem muito claro na sua ideia e mesmo no contrato de trabalho, que não pode tirar a máscara. Pode, se estiver longe do Luquinha. Mas se não estão próximos, o garoto não consegue vê-la.

Por fim, ontem a Fátima foi autorizada a trabalhar sem o dispositivo pregado nas orelhas. E então o malandrinho chorou desesperado, os olhinhos lambuzados de estranhamento.

Claro, assustou-se com a mulher.
Foto de máscaras faciais coloridas penduradas no varal.

Eu, por meu lado, ontem fui à academia logo após o último canto do galo. Então encontrei quase todos sem a máscara. Afora nem uma dúzia de exceções, todos os demais eu nunca havia visto sem máscara e foram uma surpresa.

Olha aquela menina com quem sempre troco duas palavras. Ela tem um olhar firme, duro, frio. Hoje exibiu o seu sorriso doce. Algo que eu nunca imaginei existir.

E o colega que é professor aposentado; eu julgava uma pessoa amigável e acessível. Mas ele revelou um queixo e um nariz autenticadores de prepotência.

O estagiário tem um par de olhos pequenos e tristes, sempre paradinhos. Contudo o conjunto das maçãs do rosto e do sorriso sempre presente, lhe atribuem um ar agradável de quem está de bem com a vida.

Cara, são outras pessoas? Cada um muda de personalidade pelo simples retirar de uma máscara da face?

Acredito mesmo é que seja só o nosso velho preconceito. A nossa facilidade de atribuir rótulos aos que nem conhecemos.

Muitos de nós, com ou sem máscara, somos da espécie Homo preconceituosus, que ainda sobrevive neste século XXI. É só isso. No mais o mundo segue o mesmo.

Verdadeiro mesmo é o Luquinha, que encarou as duas fileiras de dentes da Fátima e pôs a boca no mundo.


Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – RÁDIO UEL.

Acesse outro post da Coluna O COTIDIANO.

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