Eu só queria morrer em Paz. Minhas questões pendentes: a morte que as carregue.
QUE EU ME DEIXE MORRER EM PAZ.
Morrer não precisa ser hoje, pois a morte sempre é para amanhã, antes do nascer do sol. Não se pode permitir que a luz se apiede da sina do que está partindo.
Não me importa quando será, mas tenho uma exigência. Ou teria. Afinal, com a morte não se negocia.
Eu só queria morrer em Paz!
Parece pouco, para você? Pode até dar esta impressão, mas é demasiado.
Tanto assim que nem acredito que isso vá me acontecer. Tenho uns quatro ou cinco assuntos pendentes. Seria possível passá-los a limpo. Mas são questões de afeto.
Eu explico: se eu fosse resolver essas coisas, tenho certeza de que seria a maior demonstração de amor que eu seria capaz de dar às pessoas que amo. Mas sou eu, a morte e as pessoas. Essa entidade imprevisível que é o outro.
Para mim seria um gesto de amor. Mas, e para as pessoas envolvidas? Uma conversa franca poderia ser qualquer imprevisível coisa.
Por fim fico com a solução de não solucionar nada. Deixo estar como está.
Como paga a esta decisão, crio um fardo para a morte, que precisará me carregar com o peso da ausência dessa Paz que eu tanto gostaria de ter, mas que nem faço nada para chegar nela.
E essa meia dúzia de questões pendentes, a morte que as carregue.
Bem, ainda há tempo: até amanhã, esse amanhã que não se sabe quando chega.
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – RÁDIO UEL.