Salve a bobeira

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Hoje sou um chato, mas pode ser que algum dia os chatos passem a ser os legais da história. Ou não. Vai saber!


SALVE A BOBEIRA.

Vejo uma garota morena, de vestido florido e tênis branco, os cabelos compridos lambendo suas costas e pasmem, a moça andando e lendo um livro. Olhei novamente para ver se não era um tablet. Não, é um livro, podemos ficar tranquilos.

Olho ao redor e parece que só eu percebi a cena. E deve ter sido mesmo. Afinal sou um cara diferente. Diferente pra pior, imagino.

Pois olhe, nunca fui a um estádio de futebol. Nem vazio, nem cheio. Aliás nem um jogo na televisão eu suporto.

Digo que não gosto de assistir séries, mas não posso garantir, pois nunca acompanhei nenhuma.

Já fui em show de uma banda de rock nacional. Passei quatro horas em pé e até hoje não sei, ou só não lembro, qual banda era. As músicas que tocaram e cantaram? Também não sei dizer. Mas pelo menos acompanhei a minha cara metade.

Já fui também a dois desses chamados shows de piadas ou coisa assim. Até dei uma meia dúzia de risadas de algumas boberinhas. Mas no resto da hora estava pensando em outra coisa.

Se oferecem um uísque, não aceito nunca. Fico apavorado com aquele gelo derretendo no copo de um líquido que vai arder na minha garganta. Daí que nem companheiro de copo não sou.

É isso, você está com a palavra na ponta da língua: chato. Pois sou um chato assumido. Pelo menos nós dois concordamos com isso. E tudo bem. Afinal chatos não pagam mais imposto que os outros e ninguém me paga pra ser simpático.

Ah, também não tenho mídias sociais. É pra acabar, não é?

Mas estou preocupado é porque, ao contrário disso tudo aí, gosto de ler. Tenho encontrado muito lixo, mas também algumas coisas boas pra caramba. No entanto agora vamos passar a ter disponível só coisas escritas por máquinas, por inteligências não humanas. Eu mesmo, se eu ficar sem assunto, vou mandar o Chat GPT preparar o episódio do dia e pronto.

E agora, como vão ficar minhas deliciosas leituras se provavelmente só vamos ter baboseiras eletrônicas pra ler? Pode ter certeza, isso vai acontecer. É igual suco, ninguém mais espreme uma laranja. Só suco pronto.

A minha solução é convocar os chatos do mundo e instituir uma comunidade, real ou virtual, para nos alimentarmos de conteúdos. Se você conhece algum chato, além de mim, claro, inscreva ele nessa comunidade, por favor. Talvez chegue um dia em que nós, os chatos é que seremos os legais.

Quem sabe não consigo escrever um livro, para a morena do vestido florido ler despreocupadamente no seu passeio pelo bairro. Se não ficar muito ruim, ela vai pagar com um sorriso.


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Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – Rádio UEL.

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