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Uma dúzia de dez

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Foto de detalhe da obra Músicos, era Edo. Expostos no MON, Curitiba, PR, maio/23.

Vou comprando quilos de 700 gramas, dúzias de dez, litros de 750 ml. A matemática resolve a minha vergonha da pobreza.


UMA DÚZIA DE DEZ.

Quando eu quero surpresa, é bem fácil de resolver. É só ir ao supermercado. É certeza de susto. Pois os preços subiram novamente.

Aquilo que antes eu comprava por cinco reais, virou quase dez. Agora já é um pouco mais de dez. Ou seja, estou cada vez mais pobre e conseguindo comprar menos. É a realidade de todos nós. Os preços sobem, nosso dinheiro some, mas ninguém diz nada. Pois ficamos todos calados.

Foto de detalhe da obra Músicos, era Edo. Expostos no MON, Curitiba, PR.
Foto de detalhe da obra Músicos, era Edo. Expostos no MON, Curitiba, PR, maio/23.

Como eu não consigo fazer coisa alguma contra o fato de que o supermercado é quem come o que está no meu bolso ao invés de eu comer o que está nas suas gondolas, prefiro questionar o porque desta apatia das pessoas.

Os preços sobem e nós, engolimos a saliva e nos calamos, como se já estivéssemos saciados.

Então acabo por acreditar que temos vergonha da pobreza, de admitir que estamos caminhando pra mais fundo dela a cada compra que fazemos.

Mas as empresas, que percebem que os valores estão sempre a maior, fazem o esforço delas para aplacar essa nossa tristeza. Então diminuem o volume das embalagens. Onde tinha um litro, passou para 900ml e agora, para 750. O saudoso pacote com um quilo de cortes de frango, virou 800 e agora 700 gramas. Ou seja, com o mesmo dinheiro, compro um pacote. Menor, com menos conteúdo, mais leve, mas um pacote. Até a dúzia de ovos, virou dezena: uma dúzia de dez.

Eu vou disfarçando a fome residual de carne, de queijo, de salame. Onde falta mistura, desce mais uma garfada de macarrão.

É uma pequena mentira que contamos a nós mesmos. Nos permitimos um minúsculo engano. Uma inocente distorção da realidade.

Mas quero deixar uma sugestão: o supermercado podia fazer umas sacolas menorzinhas. Assim eu voltava a carregar uma meia dúzia de sacolas.

Afinal, eu preciso fazer bonito no condomínio. E daí fica tudo bem.

logo rádio UEL
Áudio: Trabalhos técnicos de Ricardo Lima – Rádio UEL.

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