Vou comprando quilos de 700 gramas, dúzias de dez, litros de 750 ml. A matemática resolve a minha vergonha da pobreza.
UMA DÚZIA DE DEZ.
Quando eu quero surpresa, é bem fácil de resolver. É só ir ao supermercado. É certeza de susto. Pois os preços subiram novamente.
Aquilo que antes eu comprava por cinco reais, virou quase dez. Agora já é um pouco mais de dez. Ou seja, estou cada vez mais pobre e conseguindo comprar menos. É a realidade de todos nós. Os preços sobem, nosso dinheiro some, mas ninguém diz nada. Pois ficamos todos calados.
Como eu não consigo fazer coisa alguma contra o fato de que o supermercado é quem come o que está no meu bolso ao invés de eu comer o que está nas suas gondolas, prefiro questionar o porque desta apatia das pessoas.
Os preços sobem e nós, engolimos a saliva e nos calamos, como se já estivéssemos saciados.
Então acabo por acreditar que temos vergonha da pobreza, de admitir que estamos caminhando pra mais fundo dela a cada compra que fazemos.
Mas as empresas, que percebem que os valores estão sempre a maior, fazem o esforço delas para aplacar essa nossa tristeza. Então diminuem o volume das embalagens. Onde tinha um litro, passou para 900ml e agora, para 750. O saudoso pacote com um quilo de cortes de frango, virou 800 e agora 700 gramas. Ou seja, com o mesmo dinheiro, compro um pacote. Menor, com menos conteúdo, mais leve, mas um pacote. Até a dúzia de ovos, virou dezena: uma dúzia de dez.
Eu vou disfarçando a fome residual de carne, de queijo, de salame. Onde falta mistura, desce mais uma garfada de macarrão.
É uma pequena mentira que contamos a nós mesmos. Nos permitimos um minúsculo engano. Uma inocente distorção da realidade.
Mas quero deixar uma sugestão: o supermercado podia fazer umas sacolas menorzinhas. Assim eu voltava a carregar uma meia dúzia de sacolas.