Vaga-lume tem; não tem

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A vida são caminhos e descaminhos de pisca-pisca, tal qual vaga-lume.


Vamos vivendo, mas várias coisas perdem-se pelo caminho. Sejam importantes ou deveras insignificantes. Por fim não nos lembramos de nenhuma delas. É como se nossa mente fosse descartando aquilo e aqueles que saíram do nosso cotidiano.

Você vai dizer que foi pura falta do que fazer. No entanto nem é isso. Pois foi mesmo uma saudade daquilo que fui abandonando ou relegando ao passado. Daí coloquei-me a elencar tudo isso.

Pra início, já vou confidenciar que foi uma labuta. Precisei evocar deslembranças incomodas e saudosas.

Por fim, cheguei a uma lista bem consistente. Então essa relação trouxe muita saudade e alguns alívios. Inclusive, foi um processo de invocar coisas que não existiam mais, nem na lembrança. E quando não estão na lembrança, é porque feneceram de vez.

E então, desse rol todo, quero falar de um item só. Já que ficou esvoaçando ao redor da minha cabeça por dias. Pois é uma coisinha que nem se mostra por completo. Só diz onde está e já nega sua presença. Desta alternância faz o seu viver. Assim, um luminosinho piscante e de instante: o vaga-lume.

Lá nos perdidos do antigamente eu apressava o engolir da janta e corria atrás desse amigo fugaz, tal qual um gato em sua noturna caçada. Porque era isso que eu fazia, caçava os vaga-lumes com a arma da pupila. Por vezes encerrava alguns no pote de vidro e ficava a admirar o inalterável pisca-pisca. Estou e não estou.

Vaga-lume tem-tem
Seu pai está aqui,
Sua mãe também.

Com este chamamento esperava que os outros besourinhos viessem para minha armadilha. Não se prestavam a tanto. Mas de qualquer modo, já estavam aprisionados na minha lembrança.

Talvez você esteja questionando, por que de toda uma relação de esquecidos, é dos vaga-lumes que eu preciso falar.

A explicação é fácil: eles traziam esperança aos olhos do menino com o vidro nas mãos. Explicavam que há momentos felizes e tristes. Mas que o caminho sempre está iluminado com centelhas. Nunca com tochas.

E assim foram meus caminhos e descaminhos. Igual a vaga-lume, só dando a entender por onde eram, sem muito alvoroço, no claro-escuro dos dias que se seguem. Só piscantes.

Vaga-lume tem; não tem.

Áudio: Trabalhos técnicos e paisagem sonora de Elias Vergennes – RÁDIO UEL.

Acesse AQUI outro post da COLUNA O COTIDIANO.

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