Por Marcos Rambalducci
Olá meus caros. Na nossa última coluna falamos um pouco sobre o sistema de pagamentos instantâneos, lançado pelo Banco Central e chamado PIX, que ficará disponível para todos a partir da próxima segunda-feira. Na página da rádio UEL você poderá acessar a este podcast.
Na coluna que assino na Folha de Londrina da semana passada escrevi sobre o porquê da inflação dos alimentos impactar muitos mais as famílias de menor renda. Como é um assunto que despertou muita atenção, o adaptei para nossa coluna de hoje.
Todos nós temos sentido o aumento no preço dos alimentos a cada vez que vamos ao supermercado. O Núcleo De Pesquisa Econômicas Aplicadas UTFPR quantificou este aumento em sua pesquisa mensal da inflação da cesta básica de alimentos em Londrina, revelando que no ano ela acumula alta de 19,1% e em relação ao mesmo mês do ano passado o aumento é de 37,3%.
Os três produtos recordistas de alta neste ano em Londrina, conforme a pesquisa do NuPEA são: o feijão (141%), seguido do óleo de soja (117%) e do arroz (107%) e, com exceção do café – com queda de 22,7%, todos os demais produtos tiveram alta acima de dois dígitos ao longo de 2020.
Mas a inflação dos alimentos impacta de forma diferente famílias de alta e de baixa renda, sendo estas as que mais sofrem com estas seguidas altas.
Para isso ficar mais claro, estudo realizado pelo economista Walter Belik com o título ‘Estudos sobre a cadeia de alimentos’, publicado em outubro, analisou a participação de oito grupos de despesas entre famílias de diferentes faixas de renda, com base em dados oficiais de 2017 a 2020.
O estudo mostra que habitação é o tipo de despesa que mais compromete em todas as faixas de renda, mas significa 42,3% para famílias com renda de até 2 salários mínimos e 34% para famílias com renda acima de 25 salários.
O segundo tipo de gastos mais expressivo é com alimentação. As famílias com renda de até 2 salários gastam o equivalente a 23,8% enquanto as de renda acima de 25 salários gastam 11,4% e consomem alimentos mais sofisticados. Observe então que as famílias mais pobres consomem mais que o dobro de sua renda com alimentação do que as pessoas mais ricas.
Esses números ajudam a entender a razão da inflação dos alimentos impactar muito mais as famílias de renda mais baixa que aquelas com renda em estratos superiores.
Vamos dar uma olhada na cesta básica. A cesta básica nacional de alimentos contempla 13 produtos, com algumas modificações dependendo da região do país, mas se constitui na chamada ração mínima, ou seja, a quantidade de alimentos necessário para atender as necessidades de um adulto por 30 dias.
Em 1º de janeiro esta cesta básica em Londrina, poderia ser adquirida na média por R$ 401,20. Em outubro esta mesma cesta ficou em R$ 478,00 ou 19,1% mais cara.
Agora vejamos.
Para uma família típica de 2 adultos e duas crianças e renda de R$ 2.090,00 (2 salários mínimos), seriam necessárias 3 cestas básicas, o equivalente a preços de janeiro a R$ 1.203,60, que é mais da metade de sua renda, para aqueles que gostam de precisão, 57,6% da sua renda
Conclusão 1
A pesquisa de Walter Belik aponta que o gasto com alimentação para famílias de baixa renda é de 23,8% de sua renda. Como o valor da cesta necessária para sustentar uma família padrão é mais que o dobro disso, ou elas estão produzindo seu próprio alimento ou estão passando fome.
Conclusão 2
Supondo para efeito desta análise, que a inflação dos alimentos consumidos por famílias de renda mais baixa tenha sido a mesma que para os alimentos consumidos pelas famílias de rendas mais altas, a inflação do período tomou 11% da renda das famílias que recebem até 2 salários mínimos, e somente 2,2% das famílias com renda de 25 salários.
Entendeu porque a inflação dos alimentos pesa muito mais na baixa renda?
Pensa nisso.
Te vejo na próxima coluna e até lá, se cuida.