A caminho da moeda digital

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Por Marcos Rambalducci

Olá meus caros. Na coluna passada, falei sobre a aparente contradição entre os dados do CAGED e do IBGE em relação a taxa de desemprego, apontando que a discrepância é explicada muito em função do período considerado em cada uma das análises, uma captando a variação mensal e outra trimestral mas ambas seguindo a mesma tendência.

Hoje quero falar um pouco a respeito do PIX, o sistema de pagamento instantâneo desenvolvido pelo Banco Central, que está previsto para estrear em 16 de novembro, e o que está por traz da adoção desta tecnologia.

Para quem não está acompanhando, o PIX vai permitir a transferência de dinheiro, de uma conta para outra, independente de qual instituição financeira seja esta conta, em menos de 10 segundos, 24 horas por dia, todos os dias do ano, e de graça para pessoas físicas e possivelmente também para pessoas jurídicas.

Para pessoa física será necessário cadastrar chaves que nada mais são que um apelido para sua conta, permitindo que seja rapidamente localizada, sem necessidade de saber qual o numero do banco, agência ou conta.

Estas chaves podem ser seu CPF, e-mail, celular e ainda há a possibilidade de gerar chaves aleatórias para quem não está seguro em passar dados pessoais ao depositante. Vale lembrar que estas chaves permitem somente a transferência de dinheiro de uma conta de terceiros para a sua conta, ok?

Mas para entender onde eu quero chegar, temos que retroceder a 12 mil anos atrás, quando as primeiras tribos começaram a se instalar na região conhecida como crescente fértil onde hoje é o Iraque.

Com a fixação do homem e a domesticação das plantas e dos animais, passamos a haver um excedente agrícola que era trocado entre os diversos produtores. Estas trocas entre mercadorias é denominada Escambo.

Mas no escambo era preciso ter a dupla coincidência de interesses. Eu que queria comprar trigo tinha que achar alguém que quisesse vender trigo e aceitasse minhas cabras na troca. Isso atrapalhava muito as trocas, até que veio a primeira inflexão – a adoção de uma mercadoria que seria utilizada e aceita por todos – neste caso a cevada. Nascia a moeda mercadoria.

Dali pra frente as demais mercadorias passaram a ter seu preço estipulado em certa quantidade de cevada.

Mas a cevada e outras mercadorias que foram utilizadas como moeda, não eram fáceis de transportar, não eram homogêneas, e não mantinham suas características. A cevada por exemplo, ou germinava ou apodrecia.

Então estas mercadorias foram substituídas por outras mais adequadas, como o ferro o bronze e o cobre e em forma de lingotes/ barras. No entanto, como passamos a ter abundância destas mercadorias, elas foram substituídas por outros dois metais, raros, desejados e que tinham aceitação geral – o ouro e a prata.

No entanto, transportar lingotes de ouro ou prata era pouco prático e muito inseguro. Aqui aparecerá a segunda inflexão.

Alguém teve a ideia de deixar os lingotes depositados em um lugar seguro e recebia em troca um certificado que garantia que o portador tinha aquela quantidade de ouro a sua disposição.

Nascia aí as casas de custódia, que se tornariam os bancos atuais e estes certificados eram uma espécie de moeda-papel, que passaram a ser utilizadas nas transações. Imagina o impacto desta mudança, em vez de carregar ouro agora você carregava um papel.

Por uma série de razões, essa função de emitir os certificados passou a ser desempenhado pelo Estado por meio de sua autoridade monetária e os certificados são substituídos pelo dinheiro de papel que tinha seu lastro em ouro, ou seja, era a representação do ouro que estava guardado nos cofres do governo.  

Aqui nasce a terceira grade inflexão. Como ninguém se preocupava em trocar o dinheiro por ouro e a economia exigia cada vez mais dinheiro porque aumentava a produção e por consequência a compra e venda, o Estado passa a emitir moeda sem que houvesse seu correspondente em ouro. Nascia assim a moeda chamada fiduciária. Todos aceitam porque acreditam que ela vale o que diz que vale.

Agora atentos ao ponto que eu quero chamar a atenção. Com esta possibilidade dada pelo PIX de fazermos tranferências instantâneas utilizando o celular, não faz mais sentido andar com dinheiro no bolso ou cartão de débito.  

Este é o primeiro passo de uma quarta inflexão. A substituição da moeda material pela moeda digital, as chamadas criptomoedas que se valem de uma tecnologia denominada blockchain e sistemas avançados de criptografia.

Não confundir com os Bitcoins da vida, ok? Esta moeda virtual será emitida pelos governos que vierem a migrar suas moedas físicas para moedas existentes somente na internet. Talvez uma mudança tão profunda quanto foi trocar o ouro pelo papel.

Pensa nisso.

Te vejo na próxima coluna e até lá, se cuida.

Contato com a coluna pelo e-mail: ecomomiaparatodos@nupea.org ou Instagram: marcos_rambalducci

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