Flávio Venturini com a Orquestra Sinfônica da UEL para comemorar os 30 anos da UEL FM 107,9. O aniversário é amanhã e a apresentação também seria neste sábado. Mas veio o novo coronavírus. O concerto foi transferido para 10 de dezembro, no Cine Teatro Universitário Ouro Verde. A UEL FM faz aniversário neste sábado, dia 6 de junho. A emissora foi inaugurada em 1990.
Toda programação pode ficar para 2021, dependendo de como vai ser o pós-pandemia, avisa o diretor-superintendente da emissora, Edyr Pedro.”Está tudo agendado: Casa de Cultura, OSUEL, Ouro Verde e Venturini. Mas se persistir esse distanciamento social pode ser que celebremos no aniversário de 31 anos”, explica. A emissora educativa da UEL apresenta neste sábado um especial com artistas locais, a partir das 12h30. O áudio do show “Sonora Londrina Festival Musical online”, realizado quarta-feira, pelo Fábrika Estúdio Produtora, vai ao ar pela UEL FM. A apresentação reuniu Vinícius Zanin, João Nakao, Silvia Borba e Bernardo Pellegrini, e o time de músicos Calebe Santos, Celso Rodolph, Elthon Dias e Fabrício Martins.
Também neste sábado começa uma campanha com depoimentos de ouvintes, artistas e colaboradores. “Conte sua história marcante com a rádio” é o tema da campanha, que deve se estender durante todo o mês e tem um link via WhatsApp para contato – link para contato. O objetivo é reunir narrativas diversas que ajudem a contar a trajetória da emissora. A campanha utiliza trecho de tema composto pelo maestro Gilberto de Queiroz, com interpretação do Duo Clavis.
Entre os depoimentos deste sábado (6), o sambista e integrante do movimento negro de Londrina, Joaquim Braga; a cantora e artista plástica Gisele de Almeida; o jornalista Osias Awá-Mboparadjú Guarani Ramos Sampaio, indígena formado pela UEL; o bancário aposentado e ouvinte assíduo Paulo Lima; a escritora Samantha Abreu e o jornalista Luciano Pascoal. Gisele de Almeida voltou ao ano de 2016, quando a rádio ficou três meses fora do ar. Financiamento coletivo mobilizou a comunidade e um grupo de 40 artistas fez show no bar Valentino sem cobrar cachê. Toda bilheteria foi revertida para a campanha.
UEL FM e pandemia
“Foi um desafio colocar nossos profissionais para trabalhar nesse novo método, longe dos estúdios e da redação. Estou muito feliz com a equipe porque, mesmo com dificuldade, conseguiu colocar no ar um produto de qualidade com eficiência, prontidão e profissionalismo”, explica, referindo-se ao boletim “Em estado de alerta contra o novo coronavírus”. O programa vai ao ar de segunda-feira a sexta-feira, ao meio-dia, com reprise às 16 horas.
A UEL suspendeu as aulas em 17 de março por causa da pandemia. Já no dia seguinte, as jornalistas Valéria Giani e Eliete Vanzo iniciaram a produção e a veiculação do Boletim – em estada de alerta contra o coronavírus, em parceria com o técnico Ricardo Lima e estagiários de jornalismo. Em 31 de março, o boletim estreou os “Classificados” para divulgar produtos e serviços de pequenos empreendedores, microempresários e trabalhadores autônomos e ajudá-los no momento de crise. O anúncio é gratuito e pode ser encaminhado para o e-mail classificadosuelfm@gmail.com.
O diretor-superintendente também conta que, nessa pandemia, a rádio está apoiando a cultura da cidade, por meio de chamadas das lives e financiamento coletivo de grupos musicais, instituições e artistas. A classe é uma das mais afetadas pelos efeitos da quarentena. Houve ainda produção de oito especiais; quatro deles ligados a artistas de Londrina: faixa a faixa do novo álbum da banda londrinense Terra Celta e do disco novo de Leopoldo Nantes; especial sobre Nelson José da Silva, o seo Nelson, um dos sambistas mais queridos de Londrina, que comemorou 85 anos. Também veiculou temas do disco Cores da Floresta, do grupo SER; e canções do novo álbum do grupo Fato, de Curitiba. Três artistas que morreram nesta quarentena ganharam especiais: Aldir Blanc, vítima do novo coronavírus; Moraes Moreira, que sofreu infarto; e o pioneiro do rock Little Richard.
Além disso, por meio de parceria com a Coordenadoria de Comunicação Social da UEL (COM), a emissora gravou spots com mensagens para carros de som que esclarecem a comunidade sobre a COVID-19 e iniciativas da UEL em projetos junto a idosos e famílias vulneráveis. O diretor da rádio destaca ainda o apoio de professores e alunos do Departamento de Comunicação Social. Eles têm contribuído com reportagens e podcasts no boletim e em outros horários da programação. Um dos destaques é o Tecer Idades, todos os sábados, às 11 horas, com o “Conversa em Rede”. Um podcast do “Tecendo redes” também está sendo veiculado, assim como programas do projeto Terra Vermelha, Mídia em Destaque, além de reprise dos 12 contos peregrinos, de Gabriel García Márquez, em versão radiofônica.
Campo de estágio
Desde sua criação, a UEL FM tem parceria com o Departamento de Comunicação para projetos de ensino com os estudantes de jornalismo. Também recebe alunos de Relações Públicas e já abriu estágio para Biblioteconomia. Não há um cálculo exato sobre a quantidade de estagiários que já passaram pela emissora, mas podemos afirmar que pelo menos 150 jovens contribuíram com a rádio – média de cinco a cada ano. “A presença dos jovens nos renova e traz outro olhar sobre os fatos, além de ampliar o conteúdo para os ouvintes. Eles propõem temas e discussões. E ainda nos ajudam a resolver problemas das novas tecnologias com a ligeireza dessa geração dos nativos digitais”, diz a jornalista Patricia Zanin.
Hiury Pereira é estagiário da Revista do Meio-Dia e, recentemente, produziu uma série sobre a precarização do trabalho dos mototaxistas que atuam como entregadores de aplicativos, submetidos a longas e extenuantes jornadas, com baixos salários e ausência de benefícios. Atualmente produz entrevistas para o boletim “Em estado de alerta contra o novo coronavírus”. São depoimentos de profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate à pandemia.
Jornalista formada pela UEL, Ana Beatriz Pacheco recebeu ano passado o reconhecimento por um projeto veiculado na rádio. A série “Solteira é a mãe” foi uma das contempladas do Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Ao longo de cinco meses de produção, ela entrevistou 20 mulheres que criam os filhos sozinhas.
Outro exemplo é Heloiza Vieira que, em 2015, levou o prêmio Rui Bianchi, da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do governo do Estado de São Paulo pela série “Além do estigma, a epilepsia fora das sombras”. A doença neurológica atinge 3 milhões de pessoas no País. Um dos episódios da série na UEL FM tratou do uso do canabidiol, substância presente na maconha que tem sido prescrita por neurologistas para epilepsias de difícil controle. Heloiza ouviu depoimentos de familiares, médicos e pacientes de várias partes do país. A jovem usou um recurso que, nessa pandemia, está sendo altamente utilizado: os áudios via WhatsApp. Há cinco anos, quando a série foi produzida, era incomum troca de áudios para a produção de matérias na emissora da UEL.
Momentos marcantes
Difícil definir momentos mais significativos da trajetória. Para alguns ouvintes, por exemplo, momento marcante com a rádio é ter a oportunidade de assistir aquele show que ele tanto queria, por meio do convite que ganhou no sorteio da UEL FM. A emissora também foi responsável por promover vários shows com artistas nacionais: Sivuca com a OSUEL; Hermeto Pascoal; Pena Branca e Xavantinho; Yamandu Costa. Na cena local, artistas da cidade no programa Trem das Onze, em circuito de bares como o extinto Tomate Seco Café Teatro, no Valentino, além de parcerias com o Brasiliano Bar e Cozinha e o Restaurante Universitário da UEL, palco de um circuito de apresentações quando a UEL FM comemorou 17 anos.
Quem acompanha a rádio certamente lembra quando ela ficou três meses fora do ar em 2016. No mesmo ano houve ocupação de estudantes na sede da emissora. O movimento durou 17 dias e a ocupação se estendeu a outros espaços da UEL, em protesto contra medidas dos governos estadual e federal com prejuízos à educação pública. Os alunos pretendiam levar ao ar programação própria, mas a direção desligou os transmissores.
Outro momento de impacto ocorreu em março de 2005, quando a rádio perdeu 12 de seus 30 colaboradores. Eles deixaram a emissora em apoio à então diretora Janete El Haouli, desligada da rádio por discordar da reitora Lygia Pupatto, que transformou a rádio numa diretoria da Coordenadoria de Comunicação Social.
A relação da rádio com os ouvintes e entrevistados também rende episódios relevantes. Em 2001, uma série de entrevistas com o tema família à UEL FM do psicólogo e psicanalista Ivan Capelatto, de Campinas, se transformou no livro Diálogos sobre a afetividade. As entrevistas dele à emissora renderam outras duas publicações impressas: Compreendendo a natureza do psiquismo humano – pequeno ensaio sobre a raiva, o medo e a culpa; de 2013, e A vida humana – perdas e consequências, de 2014.
Colaboradores e números
Atualmente, a UEL FM veicula 30 programas musicais e informativos. Desse total, 23 são produzidos por colaboradores voluntários. Também estão no ar 15 colunas, de áreas e temas variados: crônica, literatura, mitos, gastronomia, turismo, direito do consumidor, higiene bucal, flores, finanças, inovação e tecnologia. É possível ouvir a rádio também pelo aplicativo e acompanhar as novidades da programação por meio do Facebook e do Instagram.
Um pouco da história
Fundada em 6 de junho de 1990, na gestão do então reitor Jorge Bounassar Filho e do vice Carlos Roberto Appoloni, a UEL FM teve cinco diretoras mulheres. A primeira foi Maria Rosa Abelin, que ficou no cargo até 1994, sucedida por Cleber Toffoli, que comandou a emissora até 2001, quando assumiu Janete El Haouli. Ela ficou no cargo até 2005; substituída por Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza. Cristina Côrtes atuou na direção de 2006 a 2010, sucedida por Neusa Maria Amaral, que ficou no cargo até 2012. Osmani Costa dirigiu a UEL FM por seis anos, até 2018, quando assumiu Edyr Pedro.
Cada dirigente trouxe contribuições diferentes à UEL FM, com apoio das administrações da UEL. Rosa Abelin e Chico Amaro (diretor de programação da época) implantaram a programação com foco na música brasileira e ampliaram o repertório com colaboradores, de diferentes estilos e gêneros musicais. Essa marca dura até hoje. Toffoli consolidou o programa de música de raiz na emissora, fez a mudança da sede para o Centro de Educação, Comunicação e Artes e conseguiu com a administração da UEL equipamentos para ampliar a potência da emissora.
Janete El Haouli trouxe novos ares à programação musical e contribuiu com mudanças no jornalismo, além de criar a Comunidade de Amigos, Trabalhadores e Apoiadores da Rádio (CAMTAR), para captar recursos para investir em projetos da emissora. Com Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza, a rádio ganhou site, aperfeiçoado na gestão de Cristina Côrtes, também responsável por garantir o funcionamento da UEL FM 24 horas por dia, além de ampliar o diálogo com adolescentes, por meio do projeto E-Radiar, em parceria com escolas públicas. Na gestão dela, a rádio iniciou transmissões do Festival de Música, com estúdio montado na sede do festival.
Com Neusa Maria Amaral, a rádio conseguiu alguns equipamentos da administração da UEL. Já na gestão de Osmani Costa foi instalado novo transmissor, de 12 kW, para aumentar o alcance da emissora e melhorar a qualidade de transmissão do som. A reitoria também comprou equipamentos para fazer a emissora voltar a operar, quando um raio queimou itens essenciais e a rádio ficou três meses fora do ar, em 2016. O custo foi de R$ 70 mil e a comunidade de Londrina contribuiu com outros R$ 35 mil, por meio de uma campanha de financiamento coletivo realizada por servidores da rádio, com apoio de Costa. A campanha de modernização da UEL FM garantiu, entre outros itens, o aplicativo da rádio.
O atual diretor, Edyr Pedro, e o diretor de programação Jersey Gogel, retomaram a captação de recursos para a emissora por meio do apoio cultural, que ficou interrompida por oito anos. O dinheiro está sendo aplicado em equipamentos e na melhoria do acesso dos ouvintes à programação da rádio. Recentemente, Edyr Pedro e Ricardo Lima retiraram o vidro do estúdio ao vivo para facilitar o contato entre apresentadores e técnicos. Além de ampliar o espaço do estúdio nas apresentações ao vivo de bandas e artistas convidados.
Entre os desafios estão a melhoria da organização do acervo de programas (alguns materiais ainda se encontram em fitas K-7) e a ampliação do diálogo com os jovens para garantir que a nova geração continue acompanhando rádio. Outra demanda será a reposição de funcionários que estão prestes a se aposentar, além de uma sede própria.
Por Patrícia Zanin