Inesperavam-se!

O que move a viagem é uma insustentável saudade daquilo que não conheço.

Uma dúzia de dez

Foto de detalhe da obra Músicos, era Edo. Expostos no MON, Curitiba, PR, maio/23.

Vou comprando quilos de 700 gramas, dúzias de dez, litros de 750 ml. A matemática resolve a minha vergonha da pobreza.

Pasta humana

Boneco de pano do Bonecário, São Leopoldo, RS.

Somos uma comunidade, ou triturados, seremos apenas uma pasta humana.

A rua mais bonita

Minha rua é sempre a mesma. Os meus olhos é que voltam outros, diversos.

Meus novos amigos

Amigo é aquele que dá trabalho, que exige atenção. Amigo bom é o que só vai passando.

A sombra de ninguém

Guerreiro em bronze, séc IV a.C. Cripta Arqueológica, Alcacér do Sal, Portugal.

Todos deixaremos algo de herança. Quero deixar meu silêncio. Vou trocar minha vida pela sombra de um ninguém.

O enigma da inutilidade

O enigma é que eu não posso lhe entregar as respostas que você espera; tampouco você quer a pergunta que eu não tenho.

Nervos expostos

São Francisco em metal, por Edmilson Duarte, São Francisco de Paula, RS.

Apenas uma cachoeira de instantes desperdiçados na água salgada da semana.

A fome da caçamba

Casa rural de madeira ao redor do lago.

Nas caçambas de demolição cabe quase tudo, só não cabe mesmo saudades. Pois as caçambas não têm essa sensibilidade.

A língua da velha

Ouvidos quietos dão origem a bocas pobres. Ouvir histórias movimenta a criatividade.

Ninguém quis ver

Uma pitada de violência de gênero, de experiência de pobreza, privilégios e genealogia. Pouca, porque a realidade já contêm o suficiente e ninguém quis ver.

O óbvio sepultado está

Na selva de modismos, esquecemos o óbvio, mas no final o que vai restar é o fundamental, a nossa humanidade.